AGENDE UM HORÁRIO

 

Ainda que existam várias maneiras de vir a ser um trabalhador da dança de salão, a maioria delas não possui o nível de formalização das profissões que precisam de faculdades, universidades, cursos profissionalizantes…

Assim, quem pretende iniciar uma carreira nesta área, além de enfrentar os obstáculos comuns a qualquer ramo (como a escassez de oportunidades, a grande concorrência, a inexperiência…) tem que saber lidar também com essa carência de regulamentação.

Esse, talvez, seja um dos principais motivos de “ouvir-se dizer” que o meio da dança de salão é um dos mais complicados para começar, sendo totalmente possível acreditar nessa afirmação.

Primeiro que até o presente momento não há muitas regras específicas, plenamente estabelecidas e amparadas por uma entidade correspondente (como sindicatos, ordens, conselhos…), a respeito dos direitos e deveres de quem compõe esta classe.

Além disso, falta uma definição ou caracterização precisa do que é um trabalhador da dança de salão, juntamente com algum tipo de caminho mais legal ou oficial para se tornar um.

Isso faz com que a dificuldade para ser um profissional da dança de salão seja particularmente grande, observando que toda essa situação abre brechas para que injustiças ocorram.

Por exemplo, creio que um dos caminhos mais comuns para iniciar nesta atividade seja através das escolas de dança, visto que é plausível supor que a maioria dos profissionais começou assim.

Dentro deste modelo de capacitação, as escolas irão proporcionar uma formação aos aprendizes (oferecendo informações, oportunidades, títulos…) para que estes evoluam.

Em troca, a escola receberá dos iniciantes todos os tipos de serviços necessários para se manter, seja nas aulas que ela oferece, nos eventos que ela realiza ou em quaisquer outros momentos.

Até aqui, esta relação estaria equilibrada, pois existem regras – ainda que não escritas – a serem cumpridas, no que tange às obrigações e às recompensas de cada parte.

Ressaltando que, mesmo se muito for exigido dos aprendizes, esta ligação não viria a ser injusta por isso, porque se a formação propiciada pela escola for de qualidade, ela fará toda diferença em uma futura vida profissional.

No entanto, como já foi dito, neste sistema não há um conjunto de normas inteiramente bem delimitadas, além de não ter, também, nenhuma fiscalização para garantir que tudo seja feito do jeito mais correto.

Por este motivo, uma das partes pode passar a concentrar demais o seu poder no decorrer deste processo, e é isso que dá espaço para que arbitrariedades sejam cometidas.

Colocando em termos práticos, teria a chance de ocorrer, por exemplo, que a quantidade dos serviços cobrados para o desenvolvimento – apesar da certa permissão para ser grande – se torne desproporcional e praticamente impossível de ser cumprida pelos aprendizes.

Aí, não restariam alternativas a estes a não ser desistir da escola (já tendo, às vezes, ajudado bastante, por muito tempo, e não ter recebido, ainda, o que seria devido) ou fazer tudo o que ela manda, sem ter o mínimo de condições ou a quem reclamar.

E, talvez o pior que possa acontecer neste modelo, é o fato do lado pessoal passar a ter um valor maior do que qualquer outro, sobrepondo-se a quesitos que teriam que ser considerados em primeiro lugar.

Explicando melhor, devido ao “fator humano” estar extremamente presente nesta associação, é capaz de alguém obter vantagens da escola – não por uma questão de esforço, evolução, ajuda, trabalho, competência ou talento – mas unicamente em razão da afinidade que tem com os superiores.

Claro, não devem ser feitas generalizações destes exemplos, e cabe frisar que o bom relacionamento é necessário para crescer em qualquer ambiente profissional.

Apesar disso, destaca-se que a afinidade (ou a discriminação) que foi colocada é aquela que surge por características que jamais fariam diferença para quem deseja trabalhar com a dança.

Enfim, toda essa questão da informalidade é muito difícil de mudar atualmente, tendo em vista que ela se baseia em causas profundamente complexas.

Se fosse o caso de tentar dar alguma solução que atenue tudo isso, poderia se solicitar alguns comportamentos dos que estão no comando das relações desta natureza, ou buscar aconselhar os que estão no pólo mais vulnerável.

Porém, talvez o melhor já tenha sido feito, que é a identificação e a exposição do problema, pois sabendo do que ele se trata e qual é a sua origem, este possivelmente fique um pouco menos complicado de ser resolvido.

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